Hoje prometi a mim própria escrever alguma coisa. As ideias
fugiram-me e não faço ideia sobre o que escrever, mas para variar, não vou deixar
que isso me desmotive. Parece ser um tópico recorrente meu: falar sobre a
frustração que sinto por não fazer aquilo que proponho a mim mesma. Se algo não
é absolutamente inadiável… bem, então adio-o. Nem sempre. Há dias em que me
sinto capaz de conquistar o mundo e levo tudo à minha frente. E no entanto
passo a maior parte do tempo parada à espera que as coisas aconteçam, que um
outro alguém as faça acontecer. Que paradoxo estranho este… Que incoerência a
minha!
É que aquela conferência até me desperta atenção mas se
ninguém mais vai é porque não deve ser assim tão interessante, e depois tenho
de estar lá sozinha, e de qualquer maneira fazer aquele caminho todo é
cansativo, e até pode chover e se me constipo agora nunca mais curo… não, não
vale a pena. Mas fazer parte da AE deve ser giro, e é bom para o currículo, e
até é à porta de minha casa, mas depois há reuniões e essas coisas, e também
não conheço lá ninguém e como faço para participar sem saber o que se pode
fazer? Não tem lógica nenhuma realmente.
E eu até gosto muito de escrever mas hoje não me apetece ir
ao computador, e escrever à mão não dá jeito, fico ali com a folha solta, e
também ninguém lê o que escrevo, para quê ir ao blog? Mais vale ler um livro.
Mas nenhum daqueles que tenho ali me interessa, e está a ficar escuro, luz
artificial faz doer a cabeça, e os e-books também, papel é muito melhor… um
destes dias vou à biblioteca buscar um livro… mas também não há lá nada de
interessante.
Vou para o Orfeão, praticar guitarra, mas como, se ainda não
sei nada e às tantas nem está lá ninguém e vou só fazer o caminho para apanhar
frio e depois fica de noite e andar sozinha na rua pode ser perigoso. Devia era
ir aos saldos, mas já deve estar tudo escolhido e não quero dar mais despesa e
também as promoções não são nada de extraordinário. Queria mesmo era ir passear
para o centro, tirar proveito de estar numa cidade como o Porto mas fica mesmo
longe, e andar lá a passear sozinha é mesmo triste com aqueles casalinhos todos
felizes e tantos turistas entusiasmados, já fui uma vez e foi tal e qual, para
vir de lá deprimida mais vale não ir.
Preciso é de um emprego, se calhar devia tentar ser alguma
espécie de guia turística, gosto tanto de fazer isso, mas como, e com quem, se
calhar nem se ganha nada e não tenho assim tanto tempo livre e sei lá se não me
canso logo daquilo, e estar a comprometer-me com mais coisas é irresponsável. Responsável
era olhar pela minha saúde e ir fazer desporto naquele programa da
universidade, nem fica caro, mas é no outro polo e este mês nem comprei passe,
e deixei as coisas todas em Mirandela, e ir à piscina com esta cicatriz e as
coxas cheias de celulite é embaraçoso.
Vou mas é aproveitar as consultas grátis na reitoria para ir
ao psicólogo e ver se aprendo a lidar com a minha fobia de cães, isto se ainda
se puder fazer alguma coisa, os psicólogos não fazem milagres e eu tenho medo a
tanta coisa, isto já é defeito de fabrico, vou só estar a desperdiçar recursos
e tempo a alguém.
Formação, actividades extracurriculares, hobbys, passeios,
emprego, desporto, saúde… tantos projectos e ideias e tão pouca concretização.
Sinto-me rídicula. Escrever tudo faz-me perceber o quanto. Antes dizia que era por
estar em Mirandela, que lá não acontecia nada e que no Porto é que a minha vida
ia começar. Mas até agora da minha lista gigante de coisas que queria fazer, só
realizei a parte de fazer voluntariado, entrar numa tuna e dar uns passeios. E
eu que quero fazer tanto, que estou constantemente a aperceber-me das oportunidades
que estou a perder.
O que será que me leva a agir assim?! Gostava de ter uma
resposta. Mas a única conclusão a que chego é que me é muito mais fácil
realizar projectos e ambições, atingir as minhas metas “autocriadas”, quando
tenho alguém ao meu lado nesse percurso.
Quando tenho companhia torna-se mais fácil, porque além de
eliminar automaticamente uma boa parte das minhas desculpas patéticas, regra
geral a própria pessoa que está comigo obriga-me a eliminar as restantes. Mas
dado o facto de não conhecer assim tanta gente, e de essas pessoas terem os
seus próprios compromissos e objectivos, acabo por ficar muitas vezes sozinha e
parada, a deixar as coisas para uma próxima oportunidade.
Que se passa comigo? Eu até já alcancei algumas coisas, tuna
e voluntariado já é muito, se calhar sou só demasiado ambiciosa, demasiado
criativa. Mas não, não deve ser isso, há quem faça muito mais que eu e ainda
lhe sobra tempo. E a mim o que não falta neste momento é tempo “em branco”.
Então, se tenho tempo, ideias, e o que faço ainda me deixa insatisfeita, porque
não saio do lugar e arregaço as mangas? As desculpas já as dei todas, mas nenhuma
é de todo válida o suficiente para justificar a minha frustração. Nem mesmo a
de “estar/ser/fazer/ir sozinha”. No entanto, de alguma forma, teimo sempre em
achar que não sou suficiente. Às tantas não passo de uma pessoa triste ridícula
e patética, sem auto-estima ou confiança, demasiado ambiciosa e demasiadamente
dependente. Mas isso não significa que sou humana? Talvez o caminho passe por
parar de me recriminar constantemente, e em vez de estar aqui a analisar tudo,
investir esse tempo numa das mil e uma coisas que gostava de fazer. Mas como é
que isso se faz mesmo? Pois.